Para conter a inflação no Brasil
Por Rubens Teixeira, Henrique Forno e Márcio Araujo*
A inflação está alta em todo o mundo. Porém, entre todos os países no G20, o Brasil só teve menor inflação do que Turquia, Argentina e Rússia (em guerra). Além da taxa inflação, temos também dois dígitos nas taxas de desemprego e de juros. Só a Turquia nos acompanha nesta sarjeta.
Tudo isso levanta dúvidas se fizemos as melhores escolhas possíveis na condução da política econômica, já que não há como negar que estamos entre os piores do mundo nesta prova da crise.
E há explicações para isso: desvalorização cambial excessiva, exportação da nossa produção sem a necessidade de internalizar as receitas, descontrole do preço de combustíveis e instabilidades políticas por vezes desnecessárias e evitáveis.
A solução para alcançarmos um patamar civilizado na inflação passará pelo protocolo de se estabelecerem medidas restritivas. Dentre elas, destacamos o já percebido aumento da taxa de juros. Essa medida nunca encontra apoio na sociedade e sempre é o objeto de controvérsia, pois as taxas de juros já são altíssimas e grande parte das famílias e das empresas já estão muito endividadas.
Outra ação necessária seria o governo ser mais comedido nos gastos, o que em ano eleitoral é dificílimo. Seria propício passar confiança aos agentes econômicos, o que parece não ser a prioridade hoje.
Feito isso, era só aguardar os indicadores irem lentamente para o lugar, enquanto gerariam alguns efeitos colaterais, como agravamento do desemprego, diminuição do poder de compra dos salários e degeneração temporária do bem estar.
Ainda que os efeitos externos continuassem nos afetando, estaríamos com menos risco de entrar água em nosso barco. Os resultados destas medidas começariam a ser sentidos em alguns meses, mas aí as eleições teriam passado.
Como os efeitos colaterais perversos tiram votos, isso não interessa aos políticos. Não é surpresa o centrão ter dado uma semana para o ministro Paulo Guedes apresentar a solução para a inflação.
Se Guedes abrir o jogo, a solução não lhes interessará. E se for bem sincero, ele dirá que a inflação, entre as maiores do mundo no Brasil, se deu por conta dos equívocos da política econômica implementada por ele mesmo, o que certamente não interessa a Guedes dizer.
Isso significa que até o fim deste mandato o povo brasileiro continuará pagando o preço dos erros cometidos. A partir do ano que vem, teremos um arrocho que vai exigir do povo suportar ainda mais sofrimento, que seria evitável ou menor, se o ministro da inflação não ‘pauloguedeasse’ tanto a economia, quanto ‘guidomantegou’ o ministro da Dilma.
A estabilidade econômica voltará. Todavia, não será este ano. Será tanto mais rápida e menos sofrida para o povo brasileiro, quanto o próximo governo for capaz de estabelecer medidas corretas.
* Rubens Teixeira, Henrique Forno e Márcio Araujo são doutores em economia, autores do livro ‘Desatando o nó do Brasil’.